No Brasil, as incertezas sobre o arcabouço fiscal, bem como a imprevisibilidade no que diz respeito a temas relacionados à política monetária do Banco Central, seguem dificultando a leitura do cenário e, como consequência, a direção dos preços dos ativos. Vale ressaltar que a decisão de não postergar a totalidade da isenção de impostos sobre o preço dos combustíveis foi bem-vista pelo mercado, que reconhece neste ponto o esforço para redução do déficit primário este ano.
Do lado fiscal, espera-se que a nova regra (que substituirá o Teto de Gastos) não altere substancialmente a incerteza sobre o cenário à frente. Não espera-se uma regra nem muito rígida nem muito frouxa para as despesas, o que joga grande parte da responsabilidade em ajustar as contas públicas para o lado das receitas. Apesar desse cenário, o Ministério da Fazenda anuncia que o déficit público deverá ser zerado a partir do próximo ano.
Por fim, as expectativas de inflação permanecem desancorando nas últimas semanas, e já passa de 5% para o médio prazo. O Conselho Monetário Nacional preferiu não debater a questão das metas de inflação. Para o economista Felipe Bernardi Capistrano Diniz, “essa decisão consiste em um erro de política econômica. O arranjo atual obriga o BC a perseguir uma meta de inflação de 3%, ao mesmo tempo em que as expectativas já contemplam uma mudança de meta.”
O tema dos mercados nos EUA foi novamente a preocupação com a resiliência da inflação. Antagônico ao início do ano, onde os dados indicavam uma desaceleração de preços mais pronunciada, sem comprometer o crescimento em demasia, no mês de fevereiro ficou claro que para trazer a inflação para a meta, o FED precisará aplicar um remédio mais amargo. A mudança de cenário se dá muito em função do mercado de trabalho americano superaquecido, que não tem dado sinais de arrefecimento com o aperto nas condições financeiras realizadas até então. Os mais de 300 mil empregos criados no mês, somado a dados de inflação com mediana novamente em alta, seguirão pressionando a inflação de serviços.
Em termos globais, a tendência de valorização dos ativos financeiros globais sofreu uma inversão, que havia prevalecido nos últimos meses. O motivo parece ter sido a compreensão, por parte do mercado, de que a inflação nos países desenvolvidos vai demorar mais tempo para ceder. Ademais, os indicadores de atividade econômica continuam fortes nesses países, incluindo a Europa, que passou por uma situação de escassez de energia devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia. A demora para a atividade econômica desacelerar em resposta ao aperto monetário promovido pelos bancos centrais tem sido notável. Os indicadores de investimento continuam fortes, apesar da elevação significativa das taxas de juros. Diz Felipe Bernardi Diniz, “o mercado de trabalho desses países também segue forte, com taxas de desemprego próximas dos pisos históricos. Apenas no setor de manufatura, se nota algum freio do ritmo de atividade, bem como uma piora nos indicadores de confiança das empresas.”